física

Telégrafo

A sua importância e evolução


O telégrafo

O telégrafo de Morse
Fig. 1 - O telégrafo de Morse

O telégrafo pode ser definido como um sistema de comunicação à distância baseado na emissão de impulsos eletromagnéticos, através do qual se transmitem informações escritas, de forma impressa ou pictórica. Pode-se delinear a evolução da telegrafia a partir dos métodos e códigos de sinalização usados pelos povos primitivos e antigos, passando pelo sistema visual de Claude Chappe, chegando-se, com as aplicações práticas da eletricidade e do magnetismo, ao "telégrafo elétrico".

Os aperfeiçoamentos introduzidos no telégrafo entre o séc. XVIII e meados do séc. XIX transformaram-no no único meio rápido de comunicação disponível, até que o advento e a difusão do telefone determinaram um acentuado declínio no tráfego telegráfico, sobretudo no séc. XX.

Contudo, o desenvolvimento técnico do telégrafo, como a invenção do teleimpressor e de vários outros métodos de transmissão, demonstrou a sua utilidade em certas áreas de atividade. Diversas organizações passaram a operar redes próprias e, além disso, a capacidade que tem o sistema telegráfico de enviar uma grande quantidade de mensagens e o elevado valor da informação impressa, faz com que esse pioneiro na área das comunicações possa prestar serviços que jamais poderiam ser efetuados por telefone.


Tipos de telégrafos

Telégrafo Automático

Incluem-se nessa classificação, de um modo geral, todos os sistemas em que os sinais são emitidos e registados automaticamente. Antes da invenção de Morse, haviam sido propostos meios automáticos de transmissão e de registo, que foram utilizados nos seus primeiros modelos, No entanto, só em princípios do séc. XX os sistemas telegráficos impressores tornaram-se de uso geral. Podem ser classificados em três grandes categorias: (1) sinais registados em código, a serem decifrados;(2) mensagens saídas do aparelho receptor, em forma impressa; e (3) reprodução fac-similar do original.

Sistema de Registo

Os sistemas registadores, substituídos na sua maioria por volta de 1930, valiam-se de dispositivos muito semelhantes aos do aparelho original de Morse, que registava os sinais codificados sobre uma fita de papel em movimento. No sistema de Wheatstone, muito usado durante algum tempo, os pontos e traços eram impressos com sinais curtos e longos sobre uma tira de papel em movimento, por meio de uma pequena roda embebida em tinta e movida pelo eletroíman do recetor. Alguns sistemas faziam o registo pela ação eletrolítica, promovendo o deslocamento da fita; outras produziam mecanicamente perfurações sobre papel.

Telégrafos Impressores

Os primeiros telégrafos deste tipo dispunham de um cilindro impressor rotativo provido na periferia de caracteres, cujo mecanismo, acionado o eletroíman, a cada impulso recebido através do circuito fazia com que o cilindro rodasse e avançasse uma letra. Conhecida a posição inicial do cilindro, o telegrafista da estação emissora fazia a transmissão de tantos impulsos quantos necessários para colocar a letra desejada na posição de imprimir. Nessa ocasião, transmitia um impulso de natureza diferente, capaz de excitar o íman impressor e gravar a letra desejada.

Os sistemas telegráficos impressores modernos utilizam uma combinação permutadora de cinco unidades, originalmente apresentadas por Grauss e Weber, mas hoje conhecida como de Bandot, por ter sido Jean Maurice Émile Bandot o primeiro a aplicá-la. Nesses sistemas são transmitidos cinco impulsos para cada um dos caracteres, que podem ser seletivos ou não. Assim, é possível obter 32 combinações diferentes, das quais 26 correspondentes às letras do alfabeto, deixando uma para o estado de repouso e cinco para funções diversas, tais como espaços, mudança de cifras, de letra, etc.

Telefoto

O sistema do telefoto consiste na transmissão de imagens ou fotos à distância, associada à telegrafia. Um pincel luminoso explora todos os pontos da imagem que uma célula fotoelétrica traduz em correntes variáveis para serem transmitidas à estação receptora onde, em sincronismo, por processo inverso, se reconstitui o original.

As Novas Tecnologias

A invenção e o melhoramento técnico do telefone trouxe uma variada gama de novos recursos tecnológicos para a telegrafia, especialmente no campo da transmissão de informação a altas velocidades. Outro importante progresso para a telegrafia no séc. XX, foi o surgimento da transmissão por ondas de rádio. Atualmente, a transmissão por satélite é amplamente utilizada na telegrafia internacional, da mesma forma que as faixas de rádio de alta frequência. Também os computadores digitais ganharam um papel de relevância, não apenas por realizarem com rapidez a codificação e a decodificação de sinais de transmissão, mas também pela grande capacidade de armazenamento de dados.


Como surgiu o telégrafo?

Na Antiguidade, os povos utilizavam-se de artifícios naturais e de engenhosidade mais simples pra comunicar-se. Acendiam-se fogueiras, levantavam-se bandeiras, usava-se colunas de fumo, faziam-se muitos e variados sinais. Porém tais recursos não possuíam grande eficiência quando se tratava de distâncias muito grandes, problema o qual persistiu por muito tempo.

Uma significativa evolução na comunicação à distância foi a invenção de um sistema visual que se denominava telégrafo (do grego: tele - distância e grapho - escrevo). Tal processo foi desenvolvido nos princípios da década de 1790 pelo engenheiro francês Claude Chappe.

Consistia em transmitir letras, palavras e frases através de um código visualizado a partir de três réguas de madeira articuladas colocadas na parte alta de um poste ou edifício. A primeira linha de semáforos, com um comprimento de 225 quilómetros, data de 1794 e ligava Paris a Lille. Este sistema teve larga difusão no século XVIII e princípios do século XIX na França e noutros países.

Estes processos óticos de comunicação estavam obviamente dependentes das condições naturais de visibilidade. Porém o telégrafo propriamente dito só foi possível mediante avanços nas áreas da eletricidade e do magnetismo.

Tudo começou com William Watson, que em 1747 demonstrou, em Inglaterra, que a corrente elétrica podia ser transmitida a uma considerável distância através de um fio metálico, cujas extremidades, ligadas à terra, formavam um circuito. Já em fins do séc. XVIII, L. Galvani e A. Volta fizeram experiências que revolucionaram as concepções sobre a eletricidade e seus efeitos. Em 1786, Galvani descobriu acidentalmente que era possível enviar por um condutor elétrico uma corrente direta, ou contínua, gerada simplesmente pela junção de dois metais diferentes, entre os quais existia certa substância úmida. Em 1800, baseado nesses princípios, Volta apresentava uma bateria elétrica que se tornou conhecida como a "pilha voltaica" ou "pilha de Volta".

No mesmo ano, o médico espanhol Francisco Salvá, de Barcelona, provou que as correntes voltaicas poderiam ser utilizadas para a emissão de sinais. Tal facto levou Salvá a ser considerado um dos pioneiros na aplicação prática da eletricidade para fins de comunicação.

Em 1819, Hans Christian Oersted, ao observar o comportamento da agulha magnética, descobriu que esta poderia ser defletida mediante a passagem de uma corrente elétrica por um fio que lhe ficasse suficientemente próximo; verificou também que a deflexão variava para a esquerda ou para a direita conforme o sentido da corrente.

Em 1825, William Sturgeon, em Inglaterra, inventou o eletromagneto. A ação da corrente elétrica no magneto foi aplicada pela primeira vez à telegrafia por André Marie Ampère, em 1820, atendendo a uma sugestão de Pierre Simon Laplace. Segundo este, pequenos magnetos instalados na extremidade de recepção de 26 fios poderiam ser usados para indicar as letras do alfabeto.

Os físicos alemães Gauss e Webber também fizeram funcionar um telégrafo em 1833, baseado nos movimentos da agulha magnética.

O inglês William Cook viu uma demonstração do telégrafo de Schilling em 1836 em Heidelgerg e construiu vários aparelhos semelhantes, associando-se a Charles Wheatstone, professor do King’s College de Londres.

O primeiro telégrafo por eles desenvolvido foi patenteado em 1837. Tinha 6 fios e 5 agulhas magnéticas, donde lhe veio o nome de telégrafo de 5 agulhas. As agulhas eram acionadas por eletroímans. Este sistema foi usado em 1839 em Inglaterra, entre Paddington e West Drayton, numa distância de 21 quilómetros, servindo para informar as posições dos comboios. Tornou-se o primeiro serviço telegráfico comercial e foi também o primeiro uso comercial da eletricidade. Para chegar a este ponto foi necessário o desenvolvimento de várias técnicas, nomeadamente das pilhas elétricas, dos eletroímans e da fabricação de fios de cobre em lugar dos fios de ferro.

Mais tarde, em 1839, Cook e Wheatstone criaram um telégrafo mais simples, o telégrafo de 2 agulhas. O qual podia transmitir até vinte e duas palavras por minuto.

Mas foi com o pintor Samuel Finlay Breese Morse, o qual inventou um sistema mais prático, com um interruptor, um eletroíman e apenas um fio, que o telégrafo avançou significativamente em termos de popularização e eficiência.

Em outubro de 1832, Morse projetou a construção de um aparelho telegráfico registador e estabeleceu os princípios relativos ao seu código de pontos, traços e intervalos, com base na presença ou ausência de impulsos elétricos, conhecido hoje como código Morse.

Após introduzir diversos melhoramentos no aparelho, Morse transmitiu, em 1844, o primeiro telegrama pela entre Washington e Baltimore, numa distância de 64 quilómetros, utilizando aquele código. Este sistema de Morse permitiu um grande desenvolvimento do telégrafo. Em 1852 já havia 64 mil quilômetros de linhas telegráficas no mundo.

Posteriormente a invenção da telegrafia sem fios, glória do italiano Guilherme Marconi, veio trazer, principalmente à navegação, um máximo de garantia. A telegrafia sem fio veio completar a segurança das viagens marítimas, pelo constante contacto que os barcos mantêm com os litorais distantes. Clerk Maxwell, físico inglês, demonstrou certa vez que o éter servia de meio de propagação aos fenómenos elétricos e luminosos. Concluiu que o ar poderia conduzir a luz e a eletricidade a longas distâncias. Mais tarde, outro físico - Hertz - realizava nova descoberta importante: a existência das ondas elétricas, análogas às luminosas, que tomaram o nome de seu descobridor e são hoje conhecidas como "ondas hertzianas". Tais descobertas, tomadas como fonte de estudo para Marconi, resultaram na radio telegrafia.

Referências:

Texto adaptado de O Telégrafo