Ao fim da tarde de 8 de novembro de 1895, quando todos já tinham acabado o seu dia de trabalho, o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923) continuava no seu pequeno laboratório, na companhia do seu ajudante, que o observava atentamente. Enquanto Roentgen, naquele laboratório escurecido, estava absorto com a observação da condução de eletricidade através de um tubo de Crookes, o seu ajudante, em grande estado de excitação e nervosismo, chamou-lhe a atenção:
"Professor, observe o écran!" - terá dito.
Nas proximidades do tubo de vácuo havia uma tela coberta com platinocianeto de bário, sobre a qual se encontrava projetada uma inesperada luminosidade, resultante da fluorescência do material. Roentgen girou a tela, de modo que a face sem o material fluorescente ficasse de frente para o tubo de Crookes; ainda assim ele observou a fluorescência.
Foi então que resolveu colocar sua mão na frente do tubo, e, inesperadamente, pôde observar os seus ossos, projetados no écran.
Roentgen observava, pela primeira vez, aquilo que passou a ser denominado como raios X.
O texto acima pode ser uma dramatização do que realmente ocorreu naquele dia, mas o facto que a história regista é que esta fantástica descoberta teve uma estrondosa repercussão, não apenas na comunidade científica, como também nos meios de comunicação de massa. Por exemplo, em 1896, alguns meses após a descoberta, aproximadamente 49 livros e panfletos e 1.000 artigos já teriam sido publicados sobre o assunto. Um levantamento feito por Jauncey no jornal norte-americano St. Louis Post-Dispatch, mostra que, entre 7 de janeiro e 16 de março de 1896, catorze notas foram publicadas sobre a descoberta e outros estudos relacionados.
A imagem de uma mão usando um anel de casamento - figura 1 - chocou e fascinou o público. Esta “foto” foi o primeiro raio-X do mundo e, desde então, o método mudou o mundo da medicina. Foi o físico Wilhelm Roentgen que a conseguiu obter, utilizando a mão da sua esposa. Alguns dias depois, a descoberta já estava nas capas de jornais. Para tirar este raio-X, Roentgen usou o material que tinha em casa e no seu laboratório, situado por cima do apartamento no qual ele vivia.
Em termos de repercussão imediata, a descoberta dos raios X parece ser um caso único na história da ciência. A observação do eclipse solar de 1919, que comprovou parte da teoria da relatividade geral de Albert Einstein, é um rival de respeito quando se considera a repercussão na imprensa, mas não chega a competir, nem de leve, quando se considera a repercussão no meio científico. As notáveis aplicações na medicina foram imediatamente percebidas pelo próprio Roentgen.
Investigadores em todo o mundo passaram a repetir a experiência de Roentgen, não apenas na tentativa de descobrir novas aplicações, como também com o objetivo de melhor compreender o fenómeno, uma tarefa que desafiou a inteligência humana ao longo de quase três décadas.
Puro acidente ou não, o facto é que a repercussão da descoberta foi de tal ordem que, com muita justiça, o primeiro Prémio Nobel da Física (1901) foi concedido a Roentgen.